O debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, promovido pela TV Gazeta e pelo canal MyNews, no domingo (1º), trouxe à tona um aspecto preocupante da atual campanha eleitoral: a troca de ofensas e apelidos ofensivos. Embora o eleitorado espere que os postulantes ao cargo público mais importante da maior cidade do país apresentem propostas sólidas e discutam soluções para os problemas estruturais de São Paulo, o evento foi amplamente dominado por ataques pessoais e demonstrações de desrespeito.
O encontro ficou marcado por recorde em pedidos de respostas em debates na história - foram 26 no total sendo 8 concedidos. (Foto: Divulgação : Internet | Edição: Carlos Santana) |
Cinco dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto participaram do debate: Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB). Em vez de promoverem um diálogo construtivo, muitos dos participantes adotaram um tom hostil e, em alguns momentos, até infantil. A insistência de Pablo Marçal em se referir a Boulos como "Boules", uma alusão a uma polêmica envolvendo o uso de linguagem neutra em um evento de campanha, exemplificou o nível de trivialidade que o debate atingiu em diversos momentos.
Boulos, por sua vez, não ficou atrás e referiu-se a Nunes como "ladrãozinho de creche", enquanto o atual prefeito manteve o tom beligerante ao usar o termo "invasor" para se referir ao deputado do PSOL, em uma clara tentativa de ressuscitar antigas controvérsias relacionadas às ocupações urbanas lideradas por Boulos.
Entre outros momentos de destempero, as trocas de insultos entre Nunes e Marçal destacaram-se como um ponto baixo do debate. Marçal chamou o prefeito de "bananinha", ao que Nunes rebateu com um insulto ainda mais grave, referindo-se ao influenciador como "tchutchuca do PCC". As palavras escolhidas pelos dois candidatos não apenas demonstram uma falta de respeito mútuo, mas também desvalorizam o próprio espaço democrático que deveria ser dedicado à discussão de ideias e propostas.
Nesse contexto, Tabata Amaral tentou se desvencilhar das brigas diretas, focando em críticas mais sutis à gestão de Nunes. No entanto, ela também foi alvo de provocações, sendo chamada de "chatabata" por Marçal, o que evidencia a dificuldade dos candidatos em manter o debate em um nível elevado.
O que se espera de um debate político é a apresentação de soluções para os problemas da cidade, mas o evento de domingo revelou o oposto: uma disputa marcada por vaidade e insultos, deixando o eleitor sem a clareza necessária para tomar uma decisão consciente. Os grandes temas de São Paulo — como transporte, moradia, saúde e educação — foram ofuscados por uma disputa de egos que, se mantida, coloca em risco a qualidade do processo eleitoral e a própria confiança da população na política.
É lamentável que, em um momento crítico como este, em que os desafios enfrentados por São Paulo são tantos, os principais candidatos pareçam mais focados em ataques pessoais do que em oferecer respostas aos problemas reais da cidade. O eleitor, que espera seriedade e comprometimento, vê-se diante de um espetáculo que só reforça a descrença nas instituições democráticas e nas lideranças políticas.
No fim, o grande perdedor desse debate não foi um candidato específico, mas o próprio processo democrático, que perdeu a oportunidade de enriquecer o diálogo público e aproximar os cidadãos das soluções necessárias para o futuro da cidade.
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